Wednesday, July 9, 2014

bossa nova berlim - for my brazilian friends



a  festa dos segundos

as ruas dançam nuas e azuis
a hora tem o gosto quente do chá que revigora
as lâmpadas brilham ensolaradas como um bosque no outono
e as idéias têm o frescor da neve da manhã
tão-somente com as mãos limpamos os sentidos
embaçados como janelas pela chuva ácida
vagamos irrefreáveis pelo oceano do tempo
e pressentimos que a tempestade não vai passar
não vai passar

do rádio despenca o silêncio
na cabeça rouco e cósmico arde o jazz
tecemos um agasalho com a poeira  das ruas
e celebramos a festa dos segundos
a dama para quem recordar é dever
entristece e fica rija como sal
rimos e dançamos em torno da estátua
e por fim explode o coração

sobre a mesa uma conta que rasgamos
e  vivemos então nossos desejos
não ligamos para a ditadura da maioria
a esperança como princípio é prejuízo
por quanto tempo devemos esperar
por paraísos futuros prometidos
enquanto silenciosos e inexplorados
os melhores dias passaram
passaram

não não as ruas dançam nuas e azuis
a hora tem o gosto quente do chá que revigora
as lâmpadas brilham ensolaradas como bosque no outono
e as idéias têm o frescor da neve da manhã
(tradução de Carlos Abbenseth e Antonio Martins)